Saturday, February 28, 2009

Por uns metros a mais do chão

Ah, a rodoferroviária, um lugar nada amistoso e povoado de figuras estranhas, pedintes e viajantes. Por cinco minutos, tive a maravilhosa oportunidade de esperar o próximo ônibus que iria pra Goiânia, o qual só chegaria uma hora depois.
Passado aquele tempo pra lá de bacana, embarquei e capotei. Finalmente podia fechar os olhos e pensar na vida. Acordei no meio da viagem. Minhas pernas estavam reclamando por ficarem tanto tempo sem poderem se mexer.
Ajeitei-me como pude na poltrona, abri a janela. Minhas pernas ficaram mudas. Que beleza era aquela vista... Só conseguia prestar atenção naqueles morros de veludo generosamente salpicados de árvores e arbustos. Fazia tanto tempo que eu não viajava de ônibus que havia esquecido a sensação que sentia quando olhava pela janela: parecia mesmo um voo rasante.
Poder assistir a tudo passar de alguns metros a mais do chão, ver a curva do rio, contemplar o lugar em que ninguém sabe o que é chão e o que é céu. De carro não se pode fazer isso, principalmente quando se é o motorista. Você está ali, deslizando à toda por aquela serpente esguia e cheia de curvas, praticamente sentado no chão. Se olha pro lado, só vê o borrão verde dos matos que crescem à beira do caminho.
Pois eu digo que mais belos são os matos que crescem longe do caminho. Mais bonita é a água dos rios e mais interessante é o subir e descer dos morros perto do horizonte.
E eu poderia passar uma hora falando e falando do que vi e senti, mas não faria sentido pra alguém que nunca experimentou essa sensação. Poderia ter tirado uma foto, mas veja só, fiquei sem bateria '^^. Portanto, se não quiser ficar só na imaginação, tente um dia viajar de ônibus por um caminho que você já considera bonito de carro. Vale muito a pena. Apenas lembre-se de consultar os horários de partida e chegada, e escolha a janela.

Wednesday, February 25, 2009

Eu ando com problemas pra botar as ideias no lugar. Parece que meu cérebro tá inundado com pensamentos inúteis e emoções que não valem nada.
Como tem sido difícil pensar racionalmente, separando o fato da hipótese, o que aconteceu do que ainda vai acontecer. Eu me sinto impotente quando me vejo dependendo de outra pessoa pra me sentir confiante e feliz, e isso me dá nos nervos. Na verdade, sempre me esforcei pra não me importar com o que pensam de mim, mas existem momentos em que isso é simplesmente inevitável.
E agora tá sendo assim. É estranho ver minha auto-suficiência ameaçada. Logo eu, que sempre disse que estava muito bem, que não precisava de ninguém... Agora me vejo nessa situação desconfortável. Paguei língua. Ela, aliás, é uma questão central no meu dilema, mas fiquemos por aqui quanto a isso.
Meus amigos já estão cansados de me ouvir. Felizmente, são dotados de bons ouvidos e de alguma paciência. Dormir? Claro. Ainda não perdi nenhuma noite de sono pensando em uma solução para o problema, apesar de as expectativas me deixarem um tanto dividido sempre que encosto a cabeça no travesseiro.
Como se pode ver, também me é espinhoso dizer qual é o problema. É que não gosto de admiti-lo. Considero que posso me dar a tal luxo, posto que só entra aqui gente esperta e sabida, o que me preocupa por um lado, mas por outro me deixa mais livre pra falar de forma menos óbvia.
Minha maior birra com isso tudo é que eu sei que passa. Deve demorar uns bons meses, mas passa. Eu sei que passa, mas eu não quero que passe. Não em branco, pelo menos.

Wednesday, February 04, 2009

Segredos naturais

Sabe quando você conta alguma coisa a alguém, e acontece dela soltar aquilo na sua frente e na de um monte de outras pessoas? Uma revelação daquele assunto ou fato não era sequer imaginada, mas você não disse que era segredo...
Isso tem me acontecido bastante ultimamente. Será que escolho mal as coisas que quero contar aos meus amigos? Será que escolho meus amigos mal? Bem, ainda não tenho respostas conclusivas pra essas questões, e sempre me vem uma pergunta à caixola quando penso a esse respeito: precisamos dizer que algo é segredo pra que aquilo não se espalhe? Dito de outra forma, será que o tom e o tema de um diálogo não são suficientes pra que uma pessoa determine se deve ou não guardar aquilo pra si mesma?
Parece-me que entre dois cúmplices autênticos existe o que se pode chamar de segredo natural. Numa conversa de rotina, não é necessário dizer o que deve ou não ser comunicado a outras pessoas. Eles simplesmente sacam o que é conveniente permitir que outros saibam sobre seu interlocutor. E o mais duro é conseguir construir esse tipo de habilidade não somente com as pessoas do nosso círculo íntimo, mas também com aquelas que a gente vê uma vez na vida e só.
No fim, resume-se tudo a isto: discernimento. Talvez alguém possa nos dizer algo sem mencionar que tal é um segredo, mas o simples fato de o sabermos pode sinalizar que aquela pessoa confia em nós. Então, pense bastante no que vai dizer dos outros por aí, e se for alguma fofoca ou coisa degradante, esqueça. Quantos segredos naturais você deve saber? Quantos já revelou de si mesmo?