Ninguém entra numa via de trânsito rápido pra andar devagar. No eixão é assim: você entra e acelera. Todo mundo anda quase na mesma velocidade, exceto alguns apressadinhos que saem a ultrapassar e cortar os demais carros, como numa corrida de loucos.
Eu estava tranquilo, andando no limite, assim como os que estavam ao meu redor. Sinto uma boa sensação quando vejo os carros rodando harmoniosamente, as rodas girando ao contrário-até o carro mais feio e velho pareceria bonito rodando suave numa pista lisinha e bem sinalizada aquela-quando pelo flanco esquerdo chega subitamente um vulto branco.
"Sai da minha frente que eu quero passar"- a música tocando lá na sala coincidentemente traduziu em palavras a atitude nada amistosa do senhor que sobre mim avançava. No susto, freei. Meu carro faz um som legal quando freia. Parece uma turbina desacelerando. Foi meu prêmio-consolação diante de tamanho desaforo. E quando pensei em esboçar um farol alto, já estava o Speed Racer do cerrado a muitos metros de mim, cortando outras tantas vítimas de sua pressa. Merecia aquele fanfarrão uma bela buzinada, pensei. Minha buzina, porém, ficou caladinha. Por um instante julguei-me um maricas, desses que levam o desaforo sem reclamar nem espernear.
Tendo o fatídico episódeo se desenrolado pela manhã, com o passar do dia esqueci-me de tudo aquilo. Há dias, no entanto, em que apenas uma situação de estresse não parece ser suficiente. Hoje foi um desses. Sendo, pois, já noite, eis que me atrevo pela terceira vez a sair de casa. E não importa pra onde eu vá, tenho sempre de passar por uma rotatória. Em tese, quem está no balão tem a preferência. Bem, não era assim que pensava o motorista que cruzou meu caminho. Outra freada apocalíptica. Dessa vez não deixaria barato. Na hora lembrei o que se passara de manhã, e aquele outro espertinho teve o troco: um bom e ofuscante farol alto.
Já rodando em ruas retas e prestando atenção em tudo, estranhava eu a escuridão incomum. Uma olhada rápida no painel... Tava sem farol. Que vexame. Talvez quem me cortou na rotatória não tivesse me visto... E fiquei a pensar sobre isso. No fim, talvez seja melhor sofrer um pequeno desaforo do que responder de forma violenta quando não se tem certeza. É em dias assim que a minha ignorância se mostra, e eu, vendo-a tão manifesta, tenho uma visão mais clara pra tentar diminuí-la antes de fechar os olhos.
Eu estava tranquilo, andando no limite, assim como os que estavam ao meu redor. Sinto uma boa sensação quando vejo os carros rodando harmoniosamente, as rodas girando ao contrário-até o carro mais feio e velho pareceria bonito rodando suave numa pista lisinha e bem sinalizada aquela-quando pelo flanco esquerdo chega subitamente um vulto branco.
"Sai da minha frente que eu quero passar"- a música tocando lá na sala coincidentemente traduziu em palavras a atitude nada amistosa do senhor que sobre mim avançava. No susto, freei. Meu carro faz um som legal quando freia. Parece uma turbina desacelerando. Foi meu prêmio-consolação diante de tamanho desaforo. E quando pensei em esboçar um farol alto, já estava o Speed Racer do cerrado a muitos metros de mim, cortando outras tantas vítimas de sua pressa. Merecia aquele fanfarrão uma bela buzinada, pensei. Minha buzina, porém, ficou caladinha. Por um instante julguei-me um maricas, desses que levam o desaforo sem reclamar nem espernear.
Tendo o fatídico episódeo se desenrolado pela manhã, com o passar do dia esqueci-me de tudo aquilo. Há dias, no entanto, em que apenas uma situação de estresse não parece ser suficiente. Hoje foi um desses. Sendo, pois, já noite, eis que me atrevo pela terceira vez a sair de casa. E não importa pra onde eu vá, tenho sempre de passar por uma rotatória. Em tese, quem está no balão tem a preferência. Bem, não era assim que pensava o motorista que cruzou meu caminho. Outra freada apocalíptica. Dessa vez não deixaria barato. Na hora lembrei o que se passara de manhã, e aquele outro espertinho teve o troco: um bom e ofuscante farol alto.
Já rodando em ruas retas e prestando atenção em tudo, estranhava eu a escuridão incomum. Uma olhada rápida no painel... Tava sem farol. Que vexame. Talvez quem me cortou na rotatória não tivesse me visto... E fiquei a pensar sobre isso. No fim, talvez seja melhor sofrer um pequeno desaforo do que responder de forma violenta quando não se tem certeza. É em dias assim que a minha ignorância se mostra, e eu, vendo-a tão manifesta, tenho uma visão mais clara pra tentar diminuí-la antes de fechar os olhos.