Thursday, February 25, 2010

Diplomacia familiar

Há muito tempo, havia um pequeno muro que dividia as áreas da minha vó e da minha tia. Tinha apenas 1,5m, foi feito pra que as pessoas pudessem ver do outro lado.
A construção, no entanto, já parecia não resistir ao teste do tempo, como eu e meus primos constatamos por meio de insistentes chutes voadores. O muro tremia, e parecia prestes a cair.
Eis que certa feita, mais determinados que de costume, começamos nossa tortura ao muro quando uma rcahadura apareceu. Vovó, intrigada com a balbúrdia dos moleques, também se achegou para pô-lo abaixo. E não há descrição que relate com fidelidade a alegria que sentimos ao ver a parede encardida envolta em poeira e bichos espatifar-se no chão.
Quem não gostou nada, porém, foi minha tia. Ela gostava do muro! O muro era importante para que nosso futebol arte não arrasasse suas plantas. E também, o muro caiu pro lado da área dela, sendo que nenhum demolidor restou depois da travessura pra ajudar com a limpeza.
Indignada, limpou toda a sujeira. Em menos de uma semana, eis que surge um novo muro, mais grosso, indo até o telhado, pintado na mesma cor da casa dela.
Parece-me, afinal, que não existem tantas diferenças entre um muro divisor de alpendres e uma fronteira internacional. Atitudes impensadas, interesses a proteger e negociações para tudo estão bem debaixo dos nossos narizes, são características das relações humanas. O jogo de forças que faz os países se mexerem ou estagnarem é o mesmo que define se um portão elétrico deve ou não ser instaldo. As proporções e a complexidade dos dois casos não podem se comparadas, mas a mecância social é a mesma.
Ora, se até dentro da família a gente tem problemas de convivência, pergunto-me se a paz mundial não é uma utopia. Bem, é um assunto deveras sério pra ser pensado em poucas linhas. Mas o muro caindo é uma boa lembrança e ainda me faz pensar...