Friday, December 21, 2012

O palmeirense, o traído e a mãe sem a filha

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

(Carlos Drummond de Andrade. Poema de Sete Faces)



Não existe coisa melhor do que uma história sem sentido pra movimentar a internet. Não faz muita diferença se é piada ou se é sério, já que tudo será esquecido com a invenção da próxima história. O importante é o movimento, a discussão rasa.

Falar em fim do mundo tem um tempero a mais, porque no centro da muvuca está a ideia de que todos vamos morrer quase que instantaneamente vítimas de um meteoro, de bombardeio ou de qualquer outro meio rápido e indolor. Ninguém quer que o mundo acabe lenta e dolorosamente, afinal.

E o que mais me chamou a atenção em todo esse alarde é que, na verdade, fim do mundo é uma coisa muito pessoal. Permita-me exemplificar esse negócio de três formas bem singelas e nem por isso menos intensas.

Pergunte a um palmeirense o que é ver seu time afundar miseravelmente e depois ter de ver o técnico do time comandar a seleção do País. Ah, sim, no mesmo ano em que seu arquirrival conquista a América e o planeta. Só pode ser o fim do mundo.

Pergunte a um cônjuge traído o que ele sentiu ao descobrir a lambança de seu consorte. Não há humilhação que caiba nessas linhas pra dizer o que é uma situação dessas. É o fim do mundo do casado, com direito a pranto e ranger de dentes.

Se tudo isso parece leve, pergunte o que é fim do mundo a uma mulher que, depois de sucessivos abortos espontâneos, finalmente conseguiu dar à luz e teve de dar adeus a sua filhinha com sete dias de vida. Simplesmente não há ETs, planetas colidentes ou  bombardeios suficientes pra que ela se importe. O mundo não acabou na última explosão, mas no último suspiro.


Fim dos tempos é coisa relativa. Todo os dias, milhares de mundos sucumbem, outros tantos surgem e muitos sobrevivem em meio a alegrias, lutas e dores. Catástrofe planetária  parece um jeito cômodo demais para todo mundo se livrar de seus problemas, uma boa desculpa pra gente não mover um músculo pra resolvê-los.




Se é certo que esse texto pode ser lido, então é porque o mundo não acabou. A quem lê-lo, sugiro que abandone qualquer medo do fim, que mova mundos e fundos atrás de seus objetivos, e que viva com propósito. Esse mundão véi de meu Deus, apesar de umas indiretas de que quer cair pelas beiradas, não vai se acabar tão cedo.