Monday, March 18, 2013

Não sabemos andar de bicicleta - Parte 2 de 2

Muito bem, antes de seguir com minha ladainha sobre não sabermos nos locomover, quero deixar claro que não estou condenando o ciclista pelo acontecido. Sou um grande defensor da bike como meio de transporte, mas creio que é preciso muito cuidado em cima da magrela, já que nosso País não está preparado para aceitar a bicicleta senão como um meio de lazer. 

Nos últimos períodos da faculdade, sempre que eu podia, deixava o carro em casa e ia de bicicleta pra aula. Tinha a sorte de morar relativamente perto, e o caminho era relativamente fácil. Meu pai, porém, nunca gostou muito da idéia. Ele dizia "rapaz, não ande de bicicleta na rua, que vem um bêbado e passa em cima de você".
Infelizmente o homem estava certo. Não aconteceu comigo, mas, coisa de uma semana atrás, um de nós ciclistas perdeu um braço na hipótese imaginada pelo meu pai. Como sempre fui muito preocupado com a segurança na bike, decidi que talvez esse pequeno texto ajudasse quem não quer abrir mão de uma bicicleta, mesmo sabendo dos riscos que corre.
Primeiramente, toda pessoa que se dispõe a subir numa bicicleta pra usá-la como meio de transporte deve saber que não se trata de passeio no parque. Existem regras a serem seguidas e acessórios obrigatórios. Quem está na bike precisa saber seu lugar e mostrar que está ali, para que as outras pessoas também saibam. 
Certo, noção de espaço é importante, mas tem também os acessórios. Se você está sobre uma bicicleta, o capacete não é opcional. Compre uma boa couraça pra cuca e um par de luvas. Invista fortemente em visibilidade também: compre faróis e lanternas potentes o suficiente pra ser visto de dia. O cuidado é apenas para não ofuscar outros que estejam na mesma via, então ajuste o ângulo correto das luzes, e deixe-as sempre prontas para uso. Não tenha vergonha de parecer uma árvore de natal, se for necessário.
Fundamental também é gesticular, fazer sua rota previsível. Se você já está visível e sinalizado, facilita pro motorista, mas se pode ajudar ainda mais, então que o faça. Muita gente que atropela um ciclista diz que "ele apareceu do nada!". Pois bem, você não vai ser dessas pessoas que aparecem do nada, porque sabe que sempre que quando uma bicicleta e um carro disputam espaço, a primeira sempre leva a pior. Em cima da bike, não é prudente agir como se os outros soubessem onde estamos ou pra onde iremos. Adendo importante: se tiver de atravessar uma rua pela faixa de segurança, desça da bicicleta. Nenhum motorista é obrigado a parar, a não ser que seja um pedestre.
Ah, sim, não deveria ter de falar, mas é claro que é necessário respeitar a velocidade da via. Tanto na rua quanto na ciclovia, ninguém está ali para correr ou fazer acrobacias. Há pedestres e carros com os quais um ciclista divide espaço, então é bom ser moderado na pedalada. Outro ponto importante é que os freios de uma bike não são tão rápidos quanto os de uma moto ou os de um carro, e isso deve ser levado em consideração na hora de calcular a distância de parada. Não custa lembrar: bike não tem ABS (ainda), então sossegue o facho na hora de frear, senão irá sambar com a roda de trás e cair (nisso eu tenho experiência). Freie mais com o freio dianteiro do que com o traseiro.
Monte de coisa, né? Usar a bike como meio de transporte, portanto, não é tarefa super simples. Exige muito cuidado e planejamento, mesmo que haja ciclofaixas ou ciclovias. É necessário se proteger e se fazer visível, e não dar sopa pro azar. Nenhum investimento em segurança é desnecessário: lembre-se de que qualquer tombo equivale no mínimo a um raladinho. 
Agora, pode ser que, mesmo tomando todos esses cuidados, o acidente da semana passada não pudesse ser evitado. No entanto, pode ser que outros acidentes envolvendo ciclistas possam ser evitados se mais pessoas seguirem essas dicas. E se um dedo for poupado por conta dessas palavras, então o esforço de escrever terá valido a pena. Não podemos nos proteger de bêbados e loucos, mas podemos nos proteger da ignorância e do desrespeito. E se queremos ter o respeito dos motoristas e da sociedade em geral, precisamos também respeitar e dar o exemplo. 



Friday, March 15, 2013

Não sabemos dirigir - Parte 1 de 2

Tivemos um acontecimento estarrecedor essa semana. Um motorista atropelou um ciclista. Na colisão, este perdeu o braço direito, que ficou preso no veículo. Sem prestar socorro, o motorista deixou o carona em casa e depois jogou o braço do atropelado num córrego. Fim?
Não. Não tem fim. Tragédias como essa sempre acontecem. A que narrei acima não foi a primeira nem será a última.  É esse tipo de evento que me leva a crer que nós, na verdade, não sabemos dirigir um veículo. 
Vou explicar melhor: a gente sabe como fazer o carro andar (na maioria dos casos), mas provavelmente muitos ignoram o risco que o movimento implica. Tio Ben, aquele do Homem Aranha, dizia que "com grande poder vem grande responsabilidade". 
Na nossa sociedade, que valoriza a aparência, o status, o poder e a juventude, carro é poder. O povo, porém, parece que faz vista grossa pra segunda parte da máxima. Não é nenhum absurdo dizer que o trânsito é perigoso. Fechamos a porta do possante, vestimos a armadura brilhante de metal e vidro e assumimos que nada nos impedirá de chegar ao nosso destino o mais rápido possível. 
Infelizmente, é verdade que, atrás do volante, a gente assume riscos estúpidos, que não valem a recompensa. Fazemos pela pressa, pela vingança, pela diversão pura, o motivo não importa. Colocamos no fio da espada não só a nossa vida, mas a de pessoas que estão ao nosso redor, mesmo que por um segundo.
Aliás, não é necessário mais do que uma fração desse tempo para mudar radicalmente uma porção de vidas.  Voltando ao nosso exemplo, quantas pessoas foram direta e permanentemente afetadas pela perda desse braço direito? Esse acidente poderia ser evitado? Será que o custo valeu a brincadeira do motorista? Valeria a pressa, a vodka comprada antes, valeria alguma coisa que o dinheiro, esse miserável adorado, compra?
Alguns podem dizer que aquele humilde limpador de vidros não deveria estar ali com sua magrela, que não estava sinalizado, nem com capacete etc. Com o perdão de todos os ignorantes e sábios, penso que isso não alivia um grama a grande burrada do motorista. Casos como esse tornam legítima e necessária a aplicação da Lei Seca tolerância-zero. Pena que o buraco seja mais embaixo, ligado à consciência do poder que um veículo proporciona. 
Não sei se ficou claro, mas não consigo frisar o suficiente o quanto é necessário ter cuidado na hora de se locomover, tanto a pé quanto sobre rodas. Não deveríamos assumir temeridades quando elas não fossem necessárias. E se alguém pensa que dirigir corretamente é algo sem graça, que tente pensar em quão desgraçante e humilhante é a experiência de um acidente. 
Não custa lembrar, por fim, que "os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres" (CTB, art.29, §2º). Antes de pegar num volante, pense em sua responsabilidade como pessoa e, por favor, tente não atropelar ninguém por um motivo fútil

Mas e o cara da bicicleta? Só digo uma coisa: senta que lá vem a história...