Monday, February 10, 2014

Andorinha atrasada



Um dos meus grandes arrependimentos no ano de 2010 é não ter montado uma resistência mais forte em relação à escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014. Talvez nada realmente mudasse pelo fato de eu dizer "sou contra" ou "não sei se é uma boa idéia, melhor não", mas todos saberiam da minha posição de desconfiança desde o começo.
Quando saiu a seleção, eu me perguntava se a gente tinha condição de sediar uma Copa. Em 2010 a resposta era óbvia, e infelizmente continua sendo em 2014.
E agora que as coisas estão parcialmente feitas e os bolsos realmente cheios, essa realidade ficou escancarada para todo o mundo. Há problemas na infraestrutura dos aeroportos, dos hotéis e do transporte público.
De fato, foram feitas muitas exigências legais por parte da Fifa para a realização do evento. Pessoas foram postas pra fora de suas casas em desapropriações absurdas e arbitrárias. Nossas leis foram subjugadas e dobradas. Há tanto abuso em todo o processo que não é nenhum exagero dizer que estamos nos prostituindo por um punhado de chutes a gol.
Não há ingênuo que acredite tratar-se de um mero evento esportivo. É muito mais. Antes fossem apenas jogos esportivos entre nações. Tenho a impressão de que o futebol de verdade virou mera desculpa de socialização, um coadjuvante dentro de seu próprio show. Mais importantes se tornaram os estádios, os patrocinadores e tudo aquilo que existiria apenas para divulgar e enfatizar o esporte, porém esse é o menor dos problemas dessa Copa.
Ao contrário, pairam dúvidas sobre a viabilidade do evento, e a maior parte dos benefícios prometidos não chegará a tempo. A própria lógica de realizar "obras para a Copa", quando elas deveriam existir para beneficiar a população, soa puramente reativa e oportunista.
É por esses motivos que tomei uma decisão. Não assistirei a nenhum jogo da Copa. Tentarei também não consumir produtos de nenhuma marca que abertamente apoie o torneio. A única coisa que me interessa é o Walk Again Project, do Miguel Nicolelis. No mais, nada.

Se é certo que uma andorinha não faz verão, que ao menos ela seja livre para voar pra onde quiser. As camisas estão lindas, os estádios também.  Peço, porém, licença aos superotimistas e aos bandidos para me esquivar de todo esse auê. Nem toda a beleza do mundo me fará esquecer a tolice que é ter a Copa no Brasil.