Thursday, March 19, 2015

Quando Apertei o Unfollow

(fonte: http://goo.gl/7OZNkq)

Quando cogitei dar unfollow, confesso que não pensei ser grande coisa. Bastava apenas pegar o celular e apertar uns botões, foi o que me disseram. Não era nada difícil de fazer, mas deixei a coisa seguir, já que não recebia notícias mesmo. 
Já não nos falávamos fazia um tempo, não tínhamos qualquer pedaço de vida em comum, a não ser por aquele fiapinho virtual chamado follow. Ficamos nos seguindo de longe, fingindo não saber que, por uma miséria que fosse, aquele pequeno punhado de bits ainda era algo que poderia nos levar a saber mais de cada um. 
O tempo foi passando e eu vi que, ali dentro, como um brinquedo novo que quebrou depois de duas semanas, lá estava o perfil, a conexão inerte feito sombra risonha na tela branca. E do lado de cá, eu, sempre o moleque atormentado, que esperava que o boneco se levantasse, que fizesse alguma coisa, e que, em isto acontecendo, sairia correndo apavorado. 
Quando vi que precisava, demorei para juntar forças. Mais fácil me parecia fazer qualquer outra coisa do que levantar meu próprio dedo contra uma memória selecionada. Não tinha de ser uma coisa tão tensa, analisei. Mas tinha.
Quando tive de dar o unfollow, enrolei o que eu pude. Marcado era o dia, feio e amargo, coisa de resolução, não havia de passar. Sem nem pensar muito, foi o dedo no exato lugar, dois cliques, intenção, confirmação, que era pra ter certeza, e sem ser demais. 
A vista embaçou, caiu uma chuvinhazinha vagabunda de fina no coité e tocou aquela música do Legião. E digo sem exagerar que até a poeira do mundo dos vivos pairou quietinha no ar naquele instante, e depois caiu no chão novamente. 
Aí veio um alívio esquisito, desses que nos sucedem quando alguma coisa se resolve sem ser o resultado melhor. Foi isso. Tirei um peso de esperar e troquei por uma pedrinha toda escrita, que guardei numa gaveta. Não fico olhando sempre, mas sei que está lá. 
Meu telefone sobreviveu ao evento, como sempre fez depois de tantos outros unfollows. Também eu não morri, não muito, pelo menos. Deixei-o no num canto e fui tomar um copo d'água. Da janela, via o tempo clarear: ia-se embora a tempestade.