Thursday, October 06, 2011

Brinquedos quebrados de nossas vidas



Sempre gostei muito de brinquedos. Até hoje eles exercem um grande fascínio sobre mim, e são um hobby na minha estante. Meu quarto, como um todo, traduz um pouco do meu pensamento lúdico e até pueril, às vezes.

Naturalmente, à medida que vou crescendo, também crescem a complexidade e o nível de detalhes dos brinquedos que compro. Hoje gosto de bonecos e carrinhos que não durariam um minuto nas mãos de uma criança. Gosto mais de uns do que de outros, brinco com as poses aqui e acolá e, eventualmente, alguns acabam quebrados.

Quando isso acontece, tento com todo o esmero consertar o braço quebrado ou a rodinha empenada. Porém, às vezes tenho de aceitar que alguns estragos não têm reparação. Então retiro o camaradinha da estante e guardo-o na caixa.

A questão é que minha consciência vive brigando comigo por causa dessa "coleção". Eles ficam lá, praticamente sem uso, mas eu resisto muito à idéia de doá-los. Olhá-los em seu lugar, mesmo que seja dentro do guarda-roupa, me traz um pouco das lembranças que vivi no tempo em que eles eram os meus preferidos.

Esse comportamento egoísta, admito, não se justifica do ponto de vista da caridade. Um carrinho de três rodas pode ser a melhor coisa do mundo para uma criança que mais nada tem. No entanto, para mim aquelas três rodinhas são apenas um lembrete de que uma está faltando, e que as quatro o faziam deslizar pelo chão.

Vejo o fenômeno se repetir não somente em mim mesmo, mas em muitas pessoas que guardam relações deterioradas, apenas pela mistura de consolo e prazer que a coisa ou pessoa guardada proporciona. E isso ocorre em todas as gerações. Do bebê que apenas curte o chocalho quebrado no canto do berço, passando pelo garoto que não joga a bola furada fora, pelo rapaz que se recusa a deixar a garota de seus sonhos ser a dos sonhos de outro, até os senhores que juram ter um casamento bem sucedido, apenas por dormirem na mesma cama que suas já não tão amadas senhoras.

Duro me foi experimentar tal aprendizado. Expor-me assim, então, parece mais uma cacetada de misericórdia, mas é importante para expurgar os fantasmas. No fundo, todo o palavrório se resume a um amargo brocardo: ainda pior do que perder é ter de ceder.

2 comments:

Hannely said...
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Hannely said...

É incrível perceber como damos valor a coisas e muitas vezes nos esquecemos do que realmente importa. Gostei muito da comparação e realmente me levou a pensar. As vezes somos tão apegados a coisas em nossas vidas que deixamos de pensar naquilo que, com real valor, é eterno.
Quando na Bíblia fala que não devemos guardar tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde os ladrões vêm e roubam, deveríamos pensar mais a respeito. Que consequências eternas teriam nossas atitudes se nos importássemos mais com os outros que passam alguma necessidade, ou com aquele que está sempre ao nosso lado, mas não conseguimos estender a mão e amar. Não foi a toa que Jesus falou: Aquele que diz que me ama, mas não ama seu irmão, mente. Pois como podemos amar alguém que não vemos se não conseguimos amar aquele que vemos. Como podemos dizer que amamos a Deus se aquilo que dizemos não é verdade naquilo que vivemos. Acredito que Deus nos coloca em situações como estas para nos aperfeiçoar no amor, pensando mais nos outros que em nós mesmos e nos tornando mais parecidos com Ele. Um irmão devia ter mais valor do que a roupa nova que compramos e nos recusamos a emprestar; os sentimentos de uma pessoa, deviam ser mais importantes do que o nosso egoísmo ao prendê-la conosco pelo simples fato de não querer ficar sozinho; as roupas que não usamos mais em nosso armário deveriam ser melhor aproveitadas do que simplesmente dar volume as nossas gavetas. A atitude de ceder pode doer e incomodar a princípio, mas se passarmos a pensar nas consequências que elas trariam, provavelmente deixariam de ser um fardo e se tornariam uma benção.