Friday, March 15, 2013

Não sabemos dirigir - Parte 1 de 2

Tivemos um acontecimento estarrecedor essa semana. Um motorista atropelou um ciclista. Na colisão, este perdeu o braço direito, que ficou preso no veículo. Sem prestar socorro, o motorista deixou o carona em casa e depois jogou o braço do atropelado num córrego. Fim?
Não. Não tem fim. Tragédias como essa sempre acontecem. A que narrei acima não foi a primeira nem será a última.  É esse tipo de evento que me leva a crer que nós, na verdade, não sabemos dirigir um veículo. 
Vou explicar melhor: a gente sabe como fazer o carro andar (na maioria dos casos), mas provavelmente muitos ignoram o risco que o movimento implica. Tio Ben, aquele do Homem Aranha, dizia que "com grande poder vem grande responsabilidade". 
Na nossa sociedade, que valoriza a aparência, o status, o poder e a juventude, carro é poder. O povo, porém, parece que faz vista grossa pra segunda parte da máxima. Não é nenhum absurdo dizer que o trânsito é perigoso. Fechamos a porta do possante, vestimos a armadura brilhante de metal e vidro e assumimos que nada nos impedirá de chegar ao nosso destino o mais rápido possível. 
Infelizmente, é verdade que, atrás do volante, a gente assume riscos estúpidos, que não valem a recompensa. Fazemos pela pressa, pela vingança, pela diversão pura, o motivo não importa. Colocamos no fio da espada não só a nossa vida, mas a de pessoas que estão ao nosso redor, mesmo que por um segundo.
Aliás, não é necessário mais do que uma fração desse tempo para mudar radicalmente uma porção de vidas.  Voltando ao nosso exemplo, quantas pessoas foram direta e permanentemente afetadas pela perda desse braço direito? Esse acidente poderia ser evitado? Será que o custo valeu a brincadeira do motorista? Valeria a pressa, a vodka comprada antes, valeria alguma coisa que o dinheiro, esse miserável adorado, compra?
Alguns podem dizer que aquele humilde limpador de vidros não deveria estar ali com sua magrela, que não estava sinalizado, nem com capacete etc. Com o perdão de todos os ignorantes e sábios, penso que isso não alivia um grama a grande burrada do motorista. Casos como esse tornam legítima e necessária a aplicação da Lei Seca tolerância-zero. Pena que o buraco seja mais embaixo, ligado à consciência do poder que um veículo proporciona. 
Não sei se ficou claro, mas não consigo frisar o suficiente o quanto é necessário ter cuidado na hora de se locomover, tanto a pé quanto sobre rodas. Não deveríamos assumir temeridades quando elas não fossem necessárias. E se alguém pensa que dirigir corretamente é algo sem graça, que tente pensar em quão desgraçante e humilhante é a experiência de um acidente. 
Não custa lembrar, por fim, que "os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres" (CTB, art.29, §2º). Antes de pegar num volante, pense em sua responsabilidade como pessoa e, por favor, tente não atropelar ninguém por um motivo fútil

Mas e o cara da bicicleta? Só digo uma coisa: senta que lá vem a história...


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