Saturday, October 25, 2014

Peso Invisível


Certa vez, uma pessoa entendida das ciências exatas me disse que, se fosse posto um peso astronômico sobre a cabeça de uma pessoa por uma quantidade ínfima de tempo, digamos, milésimos de centésimos de segundo, ela não seria esmagada por esse objeto, ainda que este fosse muito mais pesado. Na verdade, ela provavelmente nem sentiria que, durante aquele fiapo de tempo, sua vida esteve ameaçada por uma circunstância contra qual ela estaria absolutamente indefesa. 
Dia desses eu estava caminhando, provavelmente indo para o trabalho, e pisei num inseto. Não lembro qual bicho era, também não vem ao caso. O que vem é que eu, andando, na minha, nem tinha me dado conta da existência daquela coisinha no meu caminho, e só me apercebi do acontecido depois de ter ouvido a casquinha do coitado se quebrando debaixo da minha sola.
Já passei da fase de ter dó de artrópode, mas não da fase da inculcação. Comecei a refletir então em que nível as escolhas que fazemos nos tornam dependentes de outras pessoas, mesmo que por uma fração de segundo. 
É de se pensar: durante o dia, quantas vezes depositamos nossas vidas nas mãos de outra pessoa sem que nenhuma das duas sequer tome conta disso? Quantas vezes temos o controle total da vida de alguém sem nem perceber? E são momentos, instantes mínimos que podem mudar, melhorar, interromper, ou manter inalterada a vida de qualquer das partes envolvidas. 
Surge então, durante aquela besteirinha de nada de segundo, uma grande responsabilidade sobre os ombros de quem pode definir a situação. É como se, naquele instante decisivo, surgisse um peso invisível, porém altíssimo, incapaz de ser suportado por mais tempo. 
Assustador? Sem dúvida. Intrigante? Pode apostar. Muito mais do que isso, porém, vejo algo de divino em tamanha aleatoriedade. Tudo bem que, para Deus, nada tem a névoa do imprevisível, mas não deixa de me impressionar que todo esse sistema chamado vida seja tão complexo e vibrante e frenético ao ponto de, dentro de uma insignificância temporal, reinventar-se por completo, ainda que nada aconteça.
Não quero também deixar ninguém paranoico. Parece-me apenas necessário apontar o quanto somos limitados e ignorantes na nossa vida diária. A propaganda de uma rádio diz "em vinte minutos, tudo pode mudar". Quem dera a gente tivesse vinte minutos, ou mesmo vinte segundos pra tomar toda decisão importante. 
A verdade mais dura, e talvez mais sedutora, ouso dizer, é que a nossa vida muda a todo instante pelas mãos dos outros, assim como nós transformamos as vidas de outros tantos sem saber, e ninguém se dá conta disso, pelo menos não até que o resultado tenha aparecido. Belo, assustador e absolutamente acachapante é o mistério de viver com mais gente nesse planeta. 


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