Sunday, November 08, 2015

Distantes Bodas


Nosso amigo João ia se casar, e decidiu fazê-lo em sua cidade natal. Eram oitocentos quilômetros de estrada até lá. O Lucas estava um pouco hesitante em oferecer o carro porque estava sem seguro. Eu estava hesitante em oferecer meu carro porque não tinha feito a revisão. E assim hesitávamos até os quarenta do segundo tempo.
Já era sexta quando finalmente decidimos abraçar o projeto da viagem. Dos poucos convidados candangos, sete já haviam desistido, e o João parecia um pouco chateado com isso. Se fôssemos os próximos a deixá-lo na mão, talvez não houvesse representante de Brasília naquela cerimônia. Lucas me perguntou o que fazer, falei "bora", depois perguntou à mulher, e ela disse "vamos".
O plano era eu ir até a casa dele no sábado de manhã e de lá seguirmos viagem. Acomodamos as bagagens e entramos em seu aconchegante 1.0 vermelho. Sabíamos que seria um desafio, mas tínhamos uma certeza: como o casamento era no domingo, poderíamos seguir com calma.
De fato, seguimos com tanta calma que, por uma desprogramação do GPS, demos uma volta de duas horas pelas estradas de Minas. O combustível começou a virar preocupação, então paramos pra abastecer. Sem muita ideia de onde estava, perguntei à caixa como chegar a Passos. Ela me mostrou o mapa e disse "tá longe, hein?". Conseguimos a rota e seguimos.
A luz do dia já havia ido embora, mas a noite demorava a cair por causa das nuvens que cobriam o céu. Era um trecho de pista simples quando começou uma chuva leve, fazendo refletir as luzes dos carros no asfalto. Até ali comíamos biscoitos, ríamos e conversávamos despretensiosamente, e eu dirigia.
Já era noite quando um aguaceiro desabou sobre nós. Pingos grandes e pesados se arrebentavam no parabrisa, e a visibilidade era muito baixa. Seguíamos apreensivos pelos morros, enxergando de longe o clarão dos que vinham no sentido contrário. Era um evento encontrar qualquer alma penada debaixo daquele temporal. Algumas, no entanto, desejando partir desta para uma outra, arriscavam ultrapassagens.
A chuva deu uma trégua já perto da cidade. Chegamos bem. Guardamos as coisas nos quartos e fomos procurar o que comer. Para nossa alegria, um restaurante muito bom estava a cem metros de distância. Voltamos rolando ao hotel.
O dia do casamento chegou e passou arrastado. Surpreendentemente, um casal amigo também resolveu aparecer, e assim tínhamos cinco amigos num casamento que inicialmente era só para a família.
O lugar estava lindamente decorado. Fios com lâmpadas incandescentes cobriam boa parte do gramado e, com a luz amarela, davam o ar de aconchego que merece um casamento ao fim da tarde. Começou a ventar e a chover pouco antes da cerimônia começar, mas nada que atrapalhasse a vibe do local. Três bênçãos necessárias e uma indispensável - quatro ao todo - e fomos comer. Voltamos rolando ao hotel.
Era dia de voltar pra casa. A viagem começou tranquila e depois ficou... Menos tranquila. Lucas e eu trouxemos o carro na parcimônia que a situação exigia, salvando gente imprudente e patrimônio mal aproveitado. Por termos dividido a condução, ninguém chegou muito cansado. 
Ainda restava um fim de tarde daquele 2 de novembro e tudo corria bem. Já deitado, pensava em toda a situação e em como quase não fomos viver a aventura do trajeto e a alegria de ver o amigo casando. Poucos antes de dormir, só um pensamento ocupava minha cabeça: valeu a pena.



2 comments:

Lucas Pereira Caixeta said...

Gostei da narrativa Daniel! Realmente foi uma grande aventura. Eu e a Rakeline lemos juntos seu texto e achamos dahora! :)
Valeu pela companhia nessa longa viagem.
Tudo de bom pra você, abração!

Manoel said...

dahora mesmo esse texto! continue escrevendo.