Monday, May 18, 2015

Dengue

Nesse mês faz um ano que recebi alta depois de ficar três dias internado por suspeita de dengue. Foi uma experiência bastante significativa na vida, e senti que deveria compartilhá-la.
Eu havia passado um domingo cheio de febre e de banhos frios para começar uma semana ainda sem muita noção do que era saúde. Entre remédios vivi aqueles cinco dias, até que os hemogramas começaram a acusar uma queda acentuada nas plaquetas. Para quem já não tem muitas, como eu, era um fator preocupante.
Fui levado ao hospital no sábado, repeti o exame e a médica decidiu que eu havia de ficar era por lá mesmo. Isso porque o vírus havia tomado gosto pelos meus anticoagulantes, e pegou a lanchar meus evitadores de hemorragia. Um pouco menos de plaquetas e eu precisaria receber transfusões sanguíneas.
Foi numa das noites cansativas no quarto do hospital que me bateu uma tontura muito folgada. Minha pressão tinha diminuído sem explicação. Naquele momento, com o pensamento meio embaralhado, consegui firmar a ideia para então realizar que estava completamente entregue a uma circunstância sobre a qual eu não tinha controle. Para longe haviam ido minhas forças, minhas emoções, meus neurônios. Estava na mão de Deus. "Vamos esperar pra ver o que acontece", disse a enfermeira lá longe, trocando meu soro, e eu lá.
Felizmente, durante os dias em que fiquei internado, fui me recuperando e, antes do meio dia daquela terça, já curtia o sol bravo de onze horas pela janela do meu quarto. Via o vento passando os dedos pelas copas das árvores, tranquilo. Era um dia doce, com batata frita e suco de uva. Era um homem livre.
Desde então, sempre fui muito preocupado com a dengue. Meus amigos me zoam porque, nos ensaios da banda, sempre levo um repelente. Bem, talvez seja mesmo engraçado ver como pessoas que passaram por tempos difíceis na vida tentam evitar que a experiência se repita, e eu mesmo já fiz troça de muita gente que se cuida um pouco mais pra espantar o medo. Seja como for, repelentes sempre estão na lista do mercado ultimamente. 
Embora seja uma doença penosa e, muitas vezes, letal, aparentemente não temos dado atenção a essa batalha. Quero dizer que sim, uma grande parte da população sabe o que é necessário para combater o mosquito, mas não o faz. Não sem razão, o número de casos teve um aumento explosivo em 2015, e muita gente está, nesse instante, passando pelo que passei na cama do hospital, porém no chão, abandonada em corredores e entregue a outros tantos parasitas malditos que nos assolam.
A dengue é uma doença oportunista e muito curiosa. Basicamente ela tem se aproveitado da nossa apatia em manter as coisas organizadas e limpas. Nossos lotes abandonados, nosso relacionamento precário com o lixo e nossas vidas bagunçadas dão condições mais do que suficientes para que o mosquito se reproduza como quiser, tanto quanto permitam o seu sistema reprodutor e os seus poucos dias de vida. É de se pensar como um organismo com menos de um grama pode derrubar e matar um homem feito. Mais estranho ainda é quando se percebe que falta água para as pessoas, enquanto que para os mosquitos sobra.





1 comment:

Cida said...

Parabéns ! Mais um bom texto.