Monday, June 08, 2015

Efeito Mariposa

Era uma terça-feira fresca do mês de maio. Meus amigos vieram pra cá e fazíamos uma reunião costumeira. Enquanto pegava os talheres e pratos para servi-los, vejo um pequeno vulto esvoaçante entrando pela janela. Tomei um sustinho de leve, até que a mariposa, preta e cansada, pousa no chão branco da casa. Pensei em tirá-la dali, mas imaginei que ela voaria depois, retomando seu caminho de invasão noturna de domicílios.
Imaginei somente. Assim que todos comeram e se levantaram, um dos que estavam à mesa viu a mancha preta e, num súbito de terror e espanto, esmagou o inseto com seu sapato sem cadarços. Fez uma bagunça no chão, para o que providenciei um pano, e depois uma reflexão para mim mesmo.
O indivíduo vê uma situação, que espera desenrolar-se de certa maneira, sem interferir para que o resultado ocorra. No entanto, outra pessoa interfere, mudando radicalmente o resultado do evento. A isso chamei de "efeito mariposa". É mais fácil simplesmente falar "deu mariposa" do que explicar toda a história. Claro, primeiro terei de explicar a origem do termo, mas depois será automático. 
O trabalho se justifica considerando a recorrência da situação. Muita vez nessa vida a gente espera que alguma coisa vá se resolver sozinha, quando vem outro meter a colher e bagunçar o coreto, melhorando ou piorando. No caso de nossa ilustração, deu ruim pra coitada da mariposa, mas sendo outra a disputa ou os seres envolvidos, quem garante? 
O caldo engrossa mesmo quando entra um bocadinho de Teoria dos Jogos, e então realizamos que, às vezes é melhor agir, e às vezes é melhor esperar e ver o que acontece. No caso da segunda opção, corremos o risco do "efeito mariposa", mesmo que esperar seja a alternativa mais apropriada naquele instante. 
Não pensemos, também, que o interventor esteja totalmente certo de suas atitudes, nem que imagine as consequências de suas ações. Aproveitando ainda o restinho da história, meu amigo assassino de mariposas ficou extremamente constrangido com a situação. "Fico apavorado", ele disse, pedindo um pano e muitas desculpas. Sai caro para qualquer homem admitir medo de algo que não mata, não morde e não faz sofrer - nisso excluímos balas, lâminas, feras e mulheres - sendo este último fator por vezes mais perturbador do que os outros três.
Uma mariposinha brutalmente assassinada numa noite fria de terça serviu para reflexão e proveito. Aquela morte não foi em vão! Poderia ser predita? Nunca. Evitada? Talvez. Outras casas seriam invadidas, segredos continuariam encobertos e reflexões posteriores não existiriam. Longe dos olhos mais distraídos, continuará o efeito mariposa a invadir nossas vidas, sem que nos demos conta até que passe. 

1 comment:

Bruna Caldas said...

Interessante. Parabéns pelo ótimo texto.